Wednesday, August 22, 2007

Quentes e frios?


“Sinto o cérebro a inchar”. Como se fosse alguma coisa que inchasse, como uma bola, ou o que eu decidi chamar à falta de melhor termo, um soprador de lareira. E isso aquece-me. Melhor, queima-me criando o mesmo efeito que o vento do soprador quando atirado para o fogo da lareira a faz encarnar e despertar ainda mais. É esse vento vazio que me aquece e desespera. Estou em chamas, tremendo de vento frio. Quente estando frio. Irónico não? E vazio. O nervosinho de não conseguir fazer nada, exalta-me, aquecendo-me. Deste frio vem o calor, da má-sensação, a exaltação. Acho que fico vermelho ao pensar no que não tenho feito, ou criado, ou pensado ou ter querido fazer. Bem, isso também não. Tenho querido fazer muitas, variadas e não repetitivas coisas. Queria poder dizer, mudei, qualquer coisa! De fundamental. Se não toda a existência, ( não gosto desta palavra, acho-a demasiado abarcante, mas não me lembro de mais nenhuma outra vez). Mas pelo menos a casa, ou a janela, como naquele programa que também tenho Querido eliminar do mapa, proibi-lo de me olhar e que outros o vissem. Que revolucionário sou eu às vezes, hein!? Outras, porém, instalo-me para não fazer nada. Sento-me numa câmara clara e deixo-me lá estar, naquele ócio alienante para uns, e funcional além de perfeitamente integrado para outros (dependendo, claro, da cor ilusória em questão). O azul é do ócio, frio, no entanto alienadamente esperançoso, combatido e maldito pelo quente e ruboroso vermelho. Entram em querelas entre eles e essas lutas sentem-se em mim. Não me deixam sossegar, estes diletantes e estes desejantes. Uns confortáveis e outros pedantes carregam-me, mas não como antes. Nunca como antes. Nem o quartel de Abrantes, possivelmente, estará igual. Uma pinturita deve ter levado, além de umas palmaditas dos militares de antes, uns tiros para o ar, de pistola de fulminantes, no dia de acordar, para transformar os errantes. Repararam? Estava aqui a falar de umas cores, e de repente, zás, umas rimas fraquinhas e umas considerações sobre umas brigas militares. Não há pachorra. Disperso-me muito não concretizando nada que mais valia tenha, e por isso mais valia, que estivesse calado. Já um professor dizia, isto, a quem devia, e nisto dou-lhe razão, estar realmente calado. E eu também.Talvez não.
Muitas, digamos, ideias têm aparecido.Muitas e até algumas boas.Mas não as concretizo porque estou frio. E não as concretizando tenho calor. Mas talvez sim!E o melhor é continuar a tentar.


Miguel Pimentel

4 comments:

Anonymous said...

Porque mudar não se resigna a mudar os bibelots, a fachada desgastada...Porque mudar obriga a quebrar a inércia dos queridos hábitos, tentar, falhar, persistir, oscilar entre o seguro e confortável quentinho e o desconhecido friiiiiiiinho!

Priti

Anonymous said...

Doce-frio, agri-doce, na boca. Não sei se é doce, se é frio, mas esse emaranhado de contrastes-me excita-me e, mais me excita então, se escarro na folha branca, dobro essa mesma folha e vejo um desenho feito pela simetria que não é quente, nem fria. É morna. E é assim que eu gosto.

pedro

Anonymous said...

Um estado de espirito em ebulição! Muito perto da explosão! Mas é assim que gosto de te ver. Girón.

matrioshka said...

moleskine. alinhador de anotações dispersas. potenciador estético de ideias que desnorteiam. e ainda, ideal para aviões de papel. se não funcionar é porque o norte das coisas e da gente, é uma invenção.