Saturday, October 27, 2007

Achava

Achava-me a estalar de imaginação, que é como quem diz, e segundo fontes ligadas à Filosofia, havia sido alastrado por... uma faculdade ou capacidade mental que permite a representação dos objectos segundo aquelas qualidades dos mesmos que são dadas à mente através dos sentidos.(in http://pt.wikipedia.org/wiki/Imaginação) Olhando para esta definição, parece coisa grave e inusitada, desde logo pela rebuscada terminolgia empregue. Demasiado complexa para caracterizar um direito hipotético que a todos, visionariamente, nos deve pertencer. Uma certa visão distorcida sobre a razão que leva potencialmente o ser humano, ou um qualquer indivíduo, a ver para além e além do existente, conferindo assim ao real um dinâmica alternativa, que voando sobre a qual, elementos ligados à criação artística e científica puderam prever, embelezar, ou julgar o mundo. Puderam e fizeram, e acerca disso até inventei uma frase feita, um dito imagético que pensava ser uma verdadeira revolução em termos do pensamento moderno e uma arma inabalável contra as afrontas Históricas que vinha recebendo. Então, a tal frase era assim: A pior coisa que um artista pode omitir é a consciência do tempo em que vive. Bombástica!- aludi eu interiormente sem ter ninguém para compartilhar tal descoberta. A pólvora descoberta mais uma vez, revestida da inovação que os post-it permitiram ao mundo!
Depois da euforia, a catarse: não, não se tratava realmente de uma descoberta. Tinham-me já avisado, profeticamente que Tudo o que disseres ou pensares, já alguém o pensou! Dogmas? dizia eu. Nahh, não acredito nisso. Balelas. E a originalidade onde fica? Nahh, não pode ser. É uma cabala! ( e com mais palavras me revoltei contra exorbitante disparate).
Mas afinal é verdade, e tenho que me redimir. A frase que imaginei, já um verdadeiro artista (passe o provincianismo) a tinha dito, pensado e feito declamar. Passo então a contar.
Tudo aconteceu na Internet, e por acaso, um vídeo apareceu-me por via de uma actor, falando em consciência. Declamava-se um texto de Bertolt Brecht, que na génese, mas mais especificamente, alargava horizontes ao que tinha apenas espectralmente pensado, introduzindo a questão política (confesso que quando pensei na tal frase, não foi a política que me influenciou, mas a tecnologia). A consciência política, a consciência de si e a do todo que o envolve. Bravo! – disse eu. E faz sentido, já que a política, fruto e construção da polis é um processo global, holístico se quiserem, e que a todos diz respeito. Óbvio ou não, não tinha feito ainda essa ligação, agora diametralmente simples (e virada um pouco à esquerda, pelo menos a julgar pela parte final). E julgava-me eu abstraído de ideologias funcionais ou de ordem inversa no que pelo menos à consciência diz respeito...
Parece que não, e qualquer coisa de descoberta acabei por também por adquirir. Além de uma polis- situalização, já não me esqueço desta ideia-chavão, que sendo aplicável pelo menos à tecnologia e à política, o poderá ser possivelmente, a outros campos. E Vastos, possivelmente. Daí que outra constatação subjaza desta, e essa é a de que me falta ainda muito a imaginar. E ainda bem, digo eu.

Miguel Pimentel

Aqui vai o vídeo:

3 comments:

Pedrovski said...

Seguramente que pensada por ti a originalidade não vem ligada à política e muito menos ao esquerdeiros da gravata e lata! Muito bem humorado e super inteligente porque é beyond the politics.

Um democrata maroto
Daqueles de barriga e lata
Ganhou o totoloto
Nunca mais foi democrata

De um poeta popular amarantino que não se me recorda o nome.

Anonymous said...

Parafraseando Wordsworth,poeta e teorizador que percepciona "imagination as a powerful, active force that works alongside our senses, interpreting the way we view the world and influencing how we react to events....a strong imaginative life is essential for our well-being" Se a imaginação é uma interpretação unívoca e singular do real , logo a originalidade também o é. Ao repensarmos , percorrendo até vias de pensamento já calcorredas, indagarmos ou simplesmente refutando o já dito, assistimos ao nascimento de mais um laivo de originalidade.. Irreversivelmte, expandimos os ângulos mortos da realidade.
O pensamento original não padeceu ,apenas percorre mais trilhos...

Cumprimentos,
ANaPriti

Anonymous said...

Qual Boaventura Sousa Santos, qual quê! Ao contrário do natural da tua escrita esta custou um bocadinho mais a digerir. Mas a essencia da tua poética está lá. Com palavras mais compridas mas com as mesmas ideias simples. mas não faceis de observar talvez por não se encontrarem na camada mais à superficie. cruzes canhoto