Wednesday, October 24, 2007



Vozes que não chegam ao céu



Essa intelectualidade latente é tua, mas não me convence mais que aquelas mulheres que carregam putos que arrepiam palavras e ecoam nomes enquanto vendem cuecas de algodão quentinhas e confortáveis agora pó Inverno. Pelo menos, são naturais essas palavras ruivas ou loiras que gritam ou cantam a quem passa. As tuas, pelo contrário, acho-as da solidez de um veículo de supermercado ou de um parque de estacionamento encharcado de gritos de bebés e carrinhos titubeantes, na coisa de só durarem algum tempo. Pouco, se o que queremos é que surja qualquer coisa que valha ou que singre, e que no mínimo sem pedir mais, seja um bocadinho nova e um pouco diferente, naquela intenção um pouco ideal de rasgar o que se vai vendo, e após disso, criar o que estava em aparecendo. Há sempre o medo de não ser compreendido…dizes sempre. Portanto, aprecias a resignação estapafúrdia de gostar do que gostam os outros; das palavras dos outros, das coisas dos outros, normais demais para serem reparadas e por isso, essas tuas palavras, são normalmente demasiadas para serem ouvidas.Funestas. E principalmente, e mais que tudo, pouco motivantes. Irreais no sentido que correspondem apenas a uma ideia, jamais materializada além do físico que te compõe e enquadra. É pena. Azáfama de mudança! (ainda gritei eu, tentando. Fui ignorado. obviamente ignorado…)
Paciência. Augurava-te pelo menos um futuro nesta vida das artes e críticas e letras, de desfazer e criar de ilusões.

Mas não deu, deixa lá. Talvez fique para a próxima. Talvez.


Miguel Pimentel

3 comments:

Anonymous said...

snif snif

Adorei o texto. mais directo. menos metaforico. estas a ganhar as qualidades do vinho. e dos classicos. valorizam com a idade. regresso ao significado. fara o ego sentido sem essa tentativa de mudar o mundo. ou o banal. deixar uma qualquer marca de passagem. sobre essa nao tenho duvidas. é em todos tao convicta como o eco das vendedoras de algodão doce. volto à historia. nao nos devemos alhear ao facto de que o cerne da questão esta na tua prosa. bem escrita.

Pedrovski said...

Uau... que objectividade quase grosseira não fosse carregada de humor e inteligência. mas o destinatário é alguém concreto? é que se não é para alguma pessoa-tipo (e tantas que se encaixam nesse tu a que te diriges), essa pessoa fica deserdada de auto-estima!

Anonymous said...

Because some "souless" soul cannot cannot be saved!!

Excelente texto! Aposto que foi uma boa forma de exorcisar alguns fantasmas que pejam em todos os cantos.. Vamos fechar os olhos, por um segundo:)

AnaPriti