Janelas



À volta do pescoço
À volta do pescoço
Puseram-lhe uma corda à volta do pescoço
Disse corda?
Queria dizer quadro
Quadro à volta da cabeça
Uma cara por dentro do quadro e uma corda atada ao pescoço
À volta do pescoço
Uma corda quadrada
À volta da cara, do pescoço, da cabeça
Uma armadura castanha e alumínio à volta do pescoço
Plástico à volta do pescoço
Um quadrado à volta da cara

Cortina meio aberta,
Não chegaram os olhos em frente ao cubo.
Vidro quadrado, à volta do pescoço
Um quadrado à volta da cabeça, uma corda à volta da cara, uma armadura em volta do desgosto
Levantem-me esse pescoço! Por trás da janela, há muito que a esconde-la, está o enxame, um deposto, uns alfaces sem gosto, um cubo quadrado e um herói de posto
Levantem-me esse pescoço! Ouçam o mocho, em alvoroço, que não mexe o pescoço mas a crista, à espera de uma visita, de um turista, nem que fosse
Está só, o pobre coxo, arrumado em caixotes e cartilhas, esqueceu-se da sua vida no rádio, a pilhas: filhas e bandidas! Mas continua a ocupar o posto;
Apre! Com tantas janelas a ferir o pescoço e tantas bilhas à espera de ser partidas, não há ninguém para ouvir o mocho? …



Luís Alves, Outubro 2006-10-23