Thursday, January 18, 2007

“ Vamos ó teatro?”



A peça que mais me cansou? A do Otelo que não se vingou!

Digo isto sem ironia, nem castigo
Porque na primeira linha podia parecer,
Que pela força da foice e machado
para lá alguém me tinha obrigado

Não, não digam dessas coisas,
Que fui para lá distinto e investido!
Fui lá, só de ouvido
E bem vestido, porque era convidado

Douradas bandejas e azulejos, cadeiras a desdém
Paredes sagradas para não ir mais além
Bela escadaria que subo e ai que alegria!
Mármores finas, e na euforia,
De nomes desditos e espaçoso recinto…
Vou apressado
E que delgado já me sinto!

Belos cortinados que destoariam em casa
Subo a preceito agora e com raça
Porque o andar é trejeito, sendo nova a carcaça
e a silhueta de Iago, se não olhar, disfarça

Novos ? - pergunta o senhor do bilhete e mandado
Até os estrados! – responde o empalhado

Gostei, decerto, das tramas expostas
Armas em punho e cruéis apostas;
Gostei, claro, e bem escaldado
de ter estado e costas com costas
onde multidão de solenes e bastos,
(onde se dizia que até um bardo)
chegavam a tempo e já nos fatos
e não era de carro ( nem de sapatos)

O tempo foi muito, e muito bem passado
Viagens aqui e ali entre águas de rebuçado
Alguém se debruçando (ou ri), ali está o empalhado
E de vez em quando, para não ficar só ou destoado
Lá olham para baixo, onde anda um paspalho

Fui ficando por ali, preso ao cinto
como bom usuário do luxuoso recinto
Preso à gaiola como vi um canário
Janota, e chique, mas não para empresário
Chique e cordeiro segurando o nosso fardo
Bonito e pesado, mas que me deixou arrasado

Lenga-lengas de quem se viu escriturário
E por isso, teve que (e) copiar o sumário






Luís Pimentel, 15 de Janeiro de 2007

1 comment:

Anonymous said...

Quanto teatro se faz quando se vai ao teatro!
Com um sentido irónico arrasador, gostei bastante sim senhor!

Pedro